Entrevista 01Ago

À Conversa com Rita Ibérico Nogueira // Kiss And Tell


Rita está ligada ao mundo do lifestyle e do luxo. Foi editora da revista Fora de Série e da Culto, e tem um blogue, o Kiss and Tell, onde procura contar histórias de luxo, de experiências e de lifestyle. O Clube Fitness esteve à conversa com Rita Ibérico Nogueira do blog Kiss And Tell.
 

À Conversa com Kiss And Tell

Todas as histórias começam com um “Era uma vez…”. Conta-nos um pouco da tua história. Como foi a tua infância e adolescência? Como é a tua vida adulta? E, pelo meio, qual era e é a tua ‘relação’ com a comida e o exercício físico?
Então cá vai: era uma vez uma criança feliz, que cresceu no meio de uma família grande e barulhenta. No final dos anos 70, essa família mudou-se para o Brasil e foi lá, no calor e na praia que essa criança cresceu.
Foi uma infância livre e alegre, passada ao ar livre – ao contrário do que hoje acontece com as crianças, que vivem confinadas entre quatro paredes, sem se mexerem, vidradas em ecrãs de televisões e tablets… – e acredito que isso marcou a minha maneira de ser. A adolescência foi passada já em Portugal. Foi perfeitamente normal, com noitadas, copos, brincadeiras, essas coisas que se esperam da juventude.
Os meus pais sempre me incentivaram muito à prática do desporto, por isso, até aos 16 anos, fiz equitação. Ainda participei em algumas provas de obstáculos, mas nunca fui muito competitiva, as aulas eram de manhã muito cedo e acabei por trocar os cavalos por discotecas. Não deixava de ser exercício físico…
O exercício foi estando sempre presente – quanto mais não fosse naquela base de pagar a mensalidade do ginásio, onde ia dois meses e faltava seis. A comida é que é uma aquisição relativamente recente. Era daquelas crianças infernais para comer, desde bebé. Horas sentada à mesa a olhar para um prato cheio. A minha mãe chorava no pediatra, porque eu não comia. Fui assim até aos 25 anos. Quando comecei a trabalhar descobri a comida. Comecei a ter fome, a gostar de petiscos, a querer cozinhar. Hoje em dia, gostava de voltar ao tempo em que me esquecia de comer. Saía mais barato e a linha agradecia. Estou a brincar: adoro comer. Não perdia esse prazer por nada deste mundo. Posso comer como um javali, mas compenso com exercício físico.
 


Há mais de uma década que estás ligada ao mundo do lifestyle e do luxo. Foste editora da revista Fora de Série e agora da Culto, e tens um blogue, o Kiss and Tell, onde procuras contar histórias, de luxo, de experiências, de lifestyle. Quais é que devem ser as grandes preocupações da mulher do século XXI, sobretudo relativamente à imagem?
Correndo sempre o risco de estar a cair num grande cliché, acho que a principal preocupação da mulher de hoje deve ser sentir-se bem consigo própria. A todos os níveis. Não tem a ver com ser magra, ou fit, ou jovem, ou firme. Tem a ver com encontrar o equilíbrio. Este, quando se encontra, nota-se. Esse equilíbrio é particularmente difícil nos tempos que correm, em que as mulheres têm tantos desafios pela frente. Queremos tudo: ser boas mães, mulheres atenciosas, bonitas, bem cuidadas, boas profissionais, com vida social, interessantes, informadas, ativas… Há uma altura em que não dá para tudo, porque não somos super-mulheres, o dia não tem 48 horas. E alguma coisa falha – porque é normal. Deixamos de cuidar de nós. Andamos irritadas. Comemos mal, dormimos pior. Ficamos doentes. Isso é que é errado. Foi preciso chegar aos 40 anos para perceber isso. Para perceber que o importante é estar bem, ter saúde, ser feliz. O resto, vem por acréscimo.  
 
Sempre foste uma mulher que se preocupa com a imagem? Porquê?
Preocupo-me q.b.. Sou mulher, vou vaidosa, gosto de me sentir bem. Mas, ao mesmo tempo, tenho um estilo muito descontraído, ando sempre de ténis, quase nunca maquilhada. Não perco muito tempo a pensar nisso. Tenho uma vida muito preenchida e ando sempre a correr de um lado para o outro. Com a idade, a necessidade de conforto foi-se sobrepondo à preocupação com a imagem.
 
Recentemente a tua vida sofreu algumas mudanças… Que mudanças foram essas? Houve mudanças a nível da forma como tratas de ti e do teu corpo?
Algumas mudanças, sim. Fui diagnosticada com uma doença que me obrigou a repensar a minha vida e a reorganizar-me. Descobri, há cerca de seis anos, que tenho uma fibromialgia [é uma doença do foro neurológico e, para não ser muito chata a explicar o que é, tem a ver com a produção de serotonina, uma substância muito importante para o sistema nervoso e que eu produzo em quantidade insuficiente. O resultado disso é um cansaço crónico – sim, há dias em que preciso de uma grua para conseguir sair da cama. Em alguns casos mais graves, a fibromialgia dá dores musculares terríveis – felizmente ainda não atingi essa fase (embora aconteça esporadicamente) e estou a tentar tudo o que posso para evitar lá chegar. Foi uma grande mudança porque acho que nunca estamos preparados para que nos digam, aos 35 anos, que temos uma doença crónica e debilitante e que dificilmente a nossa vida voltará a ser igual. É um choque. Primeiro foram dois anos a tentar perceber o que tinha. Foram vários médicos, opiniões e visões diferentes. Até que finalmente temos um diagnóstico que nos obriga a fazer mudanças drásticas. O sono e o descanso passaram a ser peças-chave. A alimentação, o exercício físico, a gestão do stress, tudo coisas que tive de aprender a fazer melhor. Tem sido uma adaptação permanente, porque não aceitei capitular perante uma doença. Passei por várias fases: a revolta (porquê eu?), a negação (faz de conta que não aconteceu nada) e depois a aceitação. E de vez em quando tenho recaídas. Porto-me mal, estico a corda e o meu corpo faz questão de mostrar-me que quem manda é ele.



Sabemos que o exercício físico faz parte da tua vida… Quais são as modalidades que praticas atualmente? Qual a que te desafia mais e porquê?
Sim, cada vez mais. Acho que nunca pratiquei tanto desporto como agora, de há um ano para cá. São treinos diários – já foram bi-diários, mas tive de reduzir, pois comecei a perder muito peso. No ano passado vivi uma fase mais complicada, um momento mais delicado no trabalho, e tive um burn-out. Na sequência disso, voltei vários patamares atrás na luta contra os sintomas da minha fibromialgia. Foi quase como um recomeço, estive vários meses parada, em recuperação. E o médico que me segue, e que é um amigo de longa data da minha família, mandou-me fazer desporto. Quando me disse isso, eu estava tão de rastos, tão cansada, que achei que ele estava doido. “Mas como? Eu sinto-me uma papa, não me consigo mexer”. Disse-me uma frase que repito para mim mesma de cada vez que me sinto fraquejar: “energia gera energia”. E foi assim que recomecei, devagarinho. Primeiro ioga. Depois umas aulas de alongamentos, pilates. Um surf ao fim de semana, porque o mar sempre funcionou muito bem comigo no combate ao stress. Voltei a fazer musculação para ganhar resistência e voltei a correr. Até que me entusiasmei com uma modalidade que via praticarem no ginásio (num dos dois que frequento). Nem sabia muito bem como se chamava, sabia só que era meio circense, meio acrobática. Resolvi experimentar – a modalidade chama-se Air Training ou Tecido Vertical e consiste em fazer figuras, quedas ou sequências acrobáticas numa seda que está pendurada no teto, a uns seis ou sete metros de altura –, adorei e nunca mais larguei. É, neste momento, a modalidade a que sou mais fiel. Isso e as aulas de Body Pump do Prof. José Passo no Infante de Sagres.
 
Praticas também algumas “acrobacias”. Que acrobacias são essas?
É como explicava atrás: são acrobacias praticadas num tecido pendurado o teto. As aulas são dadas por professores certificados, porque comportam algum risco – estamos a um altura considerável, sem rede, presos exclusivamente pela nossa força de braços –, e convém ter alguma preparação física, assim como ter atenção ao aquecimento, para evitar lesões.
Há quem confunda o Air Training com o Ioga Aéreo, uma modalidade que agora se vê muito por aí, mas são coisas muito distintas. Nunca fiz o Ioga Aéreo – deve ser óptimo, super-relaxante –, mas pelo que percebi, o Air Training é mais físico, exige mais força, mais consciência corporal. Sendo que, fique bem claro, eu sou uma novata na matéria, sou a pior aluna da minha turma, sou perra, pouco flexível, descoordenada, há dias em que sinto que peso duas toneladas… Ou seja: se eu consigo, qualquer pessoa consegue.
Nos primeiros tempos, tive de ganhar força. Nem sequer conseguia elevar-me com a ajuda dos braços. Praticamente não saía do chão. Mas depois os movimentos começam a automatizar-se, a força aparece quando menos esperamos. Só convém manter alguma constância nos treinos – basta estar fora uma semana para fazer diferença. Por isso, hoje em dia organizo a minha vida em torno destas aulas – acrobacias 3 vezes por semana, só falto se tiver mesmo de ser. Há quem diga que o meu futuro é no circo. Não diria tanto, mas o jornalismo já viveu melhores dias por isso não custa deixar as opções em aberto, certo?
 
És ainda uma adepta do surf. Há quanto tempo praticas surf e o que te fascina nessa modalidade?
Entrei no surf por acaso, há uns bons 15 anos. Andava a passar uma fase muito stressada – o trabalho, sempre o trabalho… – e um colega de redação andava apaixonado pelas aulas de bodyboard que tinha. Dizia que era óptimo para o stress e convenceu-me a ir com ele um dia experimentar. Lá fomos para a Costa da Caparica, deram-me uma prancha e umas barbatanas e fiz-me às ondas. Odiei cada segundo. As barbatanas magoavam, fazia umas carreiras sofríveis numas ondas ridículas. Ao fim de dez minutos disse ao professor que estava farta. Ele perguntou se eu gostava de experimentar antes uma prancha de surf, para não perder a viagem. Eu respodi que qualquer coisa seria melhor que aquelas barbatanas. Veio a prancha, umas dicas à beira-mar, estica braços, encolhe os joelhos, take-off. Fiquei de pé e descobri que não há sensação melhor do que esta de caminhar sobre as ondas. Foi amor à primeira-vista e, durante uns tempos, foi o melhor antídoto que conheci contra as agruras psicológicas da minha profissão. Ir para o surf era como ir à máquina de lavar: deixava no mar todos os meus problemas. Até que engravidei e tive de interromper. Só voltei às ondas há relativamente pouco tempo, já com o meu filho como companhia. E é para continuar. Este Verão já vamos fazer a nossa primeira surf trip juntos.


 
Quando criaste o Kiss and Tell, revelaste que uma das tuas resoluções ao entrar nos “entas” foi aderir à Dieta Paleo. Passaram entretanto dois anos, continuas a seguir essa dieta? Porquê? E que benefícios descobriste na dieta Paleo?
O Kiss and Tell nasceu de uma necessidade que tive, enquanto jornalista “analógica”, que cresceu na era do papel, de fazer uma incursão pelo mundo digital. O papel tem limitações e, na revista onde trabalhava, acontecia-me muito ter de deixar histórias interessantes de fora por não ter espaço para elas. O blog foi uma espécie de experiência com um suporte diferente daquele a que estava habituada, com um tipo de escrita mais leve, mais opinativa, e com um tipo de relação diferente – mais estreita – com os leitores. Isto numa primeira fase, porque na minha essência, eu não era uma blogger: era uma jornalista com um blog nas mãos. Coisas distintas. Porque aprendi sempre que o jornalista nunca é a notícia, não dá a sua opinião – a não ser em espaços reservados para esse efeito – e nunca é o centro das atenções. Mas, à medida que o blog ia deixando de ser só uma experiência e passou a ter uma identidade própria, uma personalidade, os leitores pediam mais exposição. Queriam saber mais sobre quem estava por trás, queriam espreitar para a minha vida e eu não estava preparada para isso. Acho que esse tem sido o maior desafio para mim em relação ao blog nestes dois anos: encontrar o equilíbrio certo entre o que os leitores querem saber e o que eu estou disponível para mostrar. Isso por um lado. Por outro, como tenho este pacto comigo mesma de me manter fiel ao que sou, de só escrever sobre as coisas que gosto, que experimento, que conheço, às vezes passo por fases menos inspiradas – que estão relacionadas também com os altos e baixos da minha vida. Como há portas que não quero abrir, detalhes que não quero expor, opto por fazer umas pausas, remeter-me ao silêncio. Sei que, do ponto de vista dos seguidores de um blog não é a opção mais inteligente, mas do meu ponto de vista é o mais honesto a fazer.
Quando não estou em pausa, o que mais gosto de fazer é de relatar as minhas experiências: com comida, com viagens, em trabalho, com pessoas que conheço, marcas que descubro. O Kiss and Tell é uma experiência que se transformou num somatório de experiências e histórias vividas por uma mulher de 40 anos, mãe, com problemas, rotinas, desafios, dúvidas, inquietações, dias bons e menos bons. A dieta paleo foi só uma das muitas experiências – neste caso muito falhada, porque só durou um mês – que relatei. No geral, gostei bastante da dieta, porque a partir do momento em que nos habituamos à privação de açúcar, alimentos processados e farinhas, não se sente fome. O pior de tudo é a organização férrea que temos de ter para conseguir cumprir. Não tenho vida para andar sempre cheia de caixas com lanchinhos saudáveis para todo o lado. Bastou ter duas viagens de seguida – daquelas cheias de refeições de aeroporto, jantares pré-escolhidos e muitos cocktails alcoólicos – para perceber que a dieta paleo é para pessoas com vidas muito cinzentas. Não é o meu caso.
 
Devido ao teu trabalho, tens a oportunidade de experimentar refeições, pratos e pequenas delícias requintadas. É difícil seguir uma alimentação saudável com tantas tentações diárias?
Tremendamente difícil. É que não tenho feitio para aceitar um convite para uma degustação seja lá do que for e depois ficar a copos de água e chá verde, a ver as calorias a passarem-me à frente. Tenho uma prima que é nutricionista, e a quem já tenho recorrido para me ajudar a ter um regime alimentar mais saudável, que me diz que enquanto eu tiver este estilo de vida continuarei a ser a sua paciente, mais rebelde.
 
Gostas de cozinhar e preparar as tuas refeições? Cozinhas para a tua família?
Gosto muito de cozinhar – relaxa-me. Cozinho, habitualmente, para a família, não tenho outro remédio. Embora o que eu goste mesmo é de fazer experiêcias – também na cozinha – e preparar coisas exóticas e mais sofisticadas. Adoro fazer workshops de culinária e depois pôr em prática os conhecimentos em casa, para a família e os amigos. Fiz um de risottos há muitos anos no Hotel da Lapa que ainda hoje me é útil. Outro que fiz no Dubai, de cozinha tailandesa, é sempre sucesso garantido – já sou amiga das senhoras dos supermercados do Martim Moniz, onde vou comprar os ingredientes. E, há pouco tempo, aprendi a brincar com a cozinha molecular, a mexer com as texturas, a fazer esferas e espumas. É divertido, embora nem sempre corra bem. Preciso de mais treino, mais cobaias. Anyone?


 
Fazes restrições na tua alimentação? Tens alimentos proibidos?
Não me proíbo de nada. Como de tudo – como faço muito desporto, posso. Claro que, quando abuso – quase sempre dos doces, a que não resisto –, aplico a lei das compesações. Hoje mais disto, amanhã menos. Por enquanto funciona e não me sinto infeliz. As únicas coisas que retirei da minha alimentação são mesmo aquelas que me fazem mal. Fiz um teste de intolerâncias alimentares e há coisas que me deixam às portas da morte, por isso fujo delas. Ostras, adoro mas sou alérgica. Clara de ovo. Algumas leguminosas. Mostarda.
 
Com uma vida ativa – como a tua – como é possível uma mulher encontrar tempo para praticar exercício, cuidar de si e cuidar da família? Quais são os teus “truques”?
Tem a ver com organização e compromisso. Tenho a sorte de ter quem me ajude a tomar conta do meu filho quando vou ao ginásio – praticamente todos os dias. Mas o compromisso é o mais importante. Antes tudo tinha prioridade, sobretudo o trabalho. O ginásio acontecia se sobrasse tempo – e raramente sobrava. Agora é ao contrário: o ginásio, para mim, é prioritário. É terapia, são ordens médicas que estou a cumprir, crucial para me sentir bem, com energia. Tem de acontecer. E não falha.
 
Tens algum lema de vida? Se sim, qual é?
Não será um lema, mas às vezes, quando desanimo, repito esta frase: “levanta a cabeça, princesa, senão a coroa cai”. É bom pensar que, nos dias bons e nos dias maus, levo na cabeça uma coroa imaginária que não pode, em circunstância alguma, cair. Aos 40 anos já vivi o suficiente para saber que a vida muda, que nos surpreende sempre que pode, prega partidas, mas também consegue ser maravilhosa. É esse aspeto que me foco. Sou positiva. Acho que é esse o meu lema de vida: tentar ver sempre o copo meio cheio (e não deixar cair a coroa, por favor).  
 
No teu blogue, dizes que tornou-se num vício “experimentar aquilo que de melhor a vida tem”. Para ti, o que é o “melhor da vida”?
O melhor da vida é tudo aquilo que nos arranca um sorriso. Mais que isso: é a vida em si.



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