Entrevista 29Ago

À conversa com Inês Viana // Ines.Gets.Healthy


Criou a conta de Instagram como um "escape" a uma situação da vida real. Mais tarde veio o blogue Ines Gets Healthy, a pedido de amigos e seguidores, para partilhar receitas, "bocadinhos de si" e para falar de um distúrbio alimentar particular. 

O Clube Fitness esteve à conversa com Inês Viana do blogue Ines.Gets.Healthy e revela a sua história.


À conversa com Ines.Gets.Healthy

Inês, fale-nos um pouco de como foi a tua infância e adolescência e qual era a tua relação com a comida. Sabemos que eras uma criança cheiinha…
Quando era pequena comia normalmente, não era muito esquisita, pelo menos até entrar no ensino básico. Não era uma criança pequena porque sempre fui bastante alta e nunca fui magra magra, mas era uma menina normal. Os problemas começaram então quando entrei para o 5o ano. Com um bar na escola comecei a comer mal e a ganhar peso. Comia porcarias como chocolates, bolos, etc. Claro que cheguei a uma altura em que pesava 80 kilos e odiava o corpo que tinha e sofria com o gozo constante que ouvia. Quanto mais ouvia isto pior ficava e ou comia como se não houvesse amanhã ou não comia nada.

Chegaste a fazer “dietas malucas” quando eras mais nova. Como corriam e vias resultados?
Como disse em cima as minhas dietas nesta altura é absurdas, pois consistiam em não comer nada durante o dia e depois atacava a comida à noite. O que comia até podia não ser comida “má” (não gosto muito do rótulo mas é para se perceber do que falo) mas eram quantidades enormes, normalmente de fruta. Depois comecei a fazer dieta no verão e depois no inverno voltava ao mesmo.

Sabemos que houve um acontecimento na tua vida – a morte do teu pai em 2008 - que te tornou verdadeiramente obsessiva com a comida. Explica-nos como foi essa fase da tua vida.
Eu sei que já tinha um problema com a alimentação nesta altura. Acredito que a morte do meu pai foi o gatilho para a doença crescer e me dominar. Comecei a focar-me muito na comida, em perder peso e a fazer substitutos de refeição diariamente fingindo que comia para que os outros não se apercebessem. Comecei a fazer exercício mesmo depois de ter ido a nutricionista.

Sabemos também que desenvolveste mesmo um distúrbio alimentar. Quando te apercebeste que não estavas bem e não eras saudável?
Demorei algum tempo a perceber. Para mim não estava magra de mais, ainda podia ficar mais um bocadinho. Não tinha noção de como estava. Sei que as minhas amigas olhavam para mim e se assustavam, bem como a minha família. A certa altura depois de falar com uma amiga que também teve um distúrbio apercebi-me que não estava bem. Mas não foi por isso que comecei a tentar ficar melhor (comecei a consultar um psiquiatra mas não estava convencida de que precisava de ficar melhor).

Que consequências a doença te trouxe para a tua saúde?
Imensas. O cabelo começou a cair, tive um AIT [Acidente Isquémico Transitório], deixei de tomar a pílula (porque com o AIT a pílula e o tabaco acentuavam a possibilidade de ter outro) e fiquei sem o período (desde de 2012 até hoje).



Na época, praticavas exercício físico com que frequência?Inicialmente fazia em casa cardio em jejum (cerca de 45 minutos), saltava a corda durante o cardio, e fazia elíptica todos os dias, 3 vezes durante 15 minutos. Agora ando no ginásio e treino 6 vezes por semana.

Hoje em dia, achas que estás curada?
Não. Não posso mentir. Há aspetos da doença que sinto que já estão controlados mas ainda não estou curada. Ainda tenho recaídas, tenho episódios de binge, mas ando a conseguir lidar melhor com isso. Isto é um processo lento e doloroso, com step backs. Importante é não desistir.

Qual é hoje a tua relação com a comida? Que cuidados tens?
Tenho uma alimentação “saudável”. Como de tudo (menos carne por opção), hidratos (arroz integral, basmati, batata doce, massa, quinoa etc), proteínas (peixe, lacticínios e ovos) e gorduras (presentes nos alimentos ou de frutos secos e suas manteigas).

Quais as diferenças entre a Inês de há três anos e a Inês de hoje?
A Inês de agora já evolui, já aprendeu a ser mais forte e a gostar mais de si. Além do apoio incondicional de família e amigos próximos encontrar alguém que gosta de nós, independentemente do nosso aspeto, percebemos que somos dignos e somos mais do que uma imagem. Se os outros gostam de nós porque é que nós não havemos de gostar?

Quando e porquê decidiste criar a conta de Instagram Inesgetshealthy?
Comecei a conta quando descobri que a minha mãe estava doente. Foi uma forma de escape e de desabafo “anónimo”. Partilhar o meu dia a dia com pessoas que não me conheciam ajudava-me a ter algum “equilíbrio” num momento em que a minha vida estava um caos, estava num buraco difícil de lidar.

Há dois meses criaste o blogue. Sentiste necessidade de partilhar mais com os teus seguidores?
Criei o blogue mais porque havia muita gente a querer que o fizesse – desde amigos e seguidores que me diziam “faz um blogue”. Acho que foi mais pelas receitas que me pediam mas queria fazer um blogue que abordasse os ED que existem, a luta contra os mesmos. Em Portugal não existem muitos blogues a abordar esta questão de uma maneira tão direta.



O que podemos encontrar no blogue Inesgetshealthy?
Podem encontrar não só receitas mas também “bocadinhos de mim”, isto é, partilhas da minha vida, de episódios ou situações que acho que possam ter interesse partilhar, pois pode haver quem se identifique e que se aperceba de que não é único a passar por isso.

Quantas vezes por semana vais ao ginásio? E qual a modalidade que mais gostas?
Vou 6 vezes por semana. O que mais gosto de fazer é musculação. Adoro deadlifts, legpress, squats, remadas etc.. (treinos preferidos – pernas, glúteos e costas).

Que mensagem deixas às pessoas que possam sofrer atualmente de um distúrbio alimentar?
Procurem ajuda. Não se enganem, não mintam a vocês mesmos. Todo o discurso que arranjam para justificar o vosso comportamento é inútil, “been there, done that”. Quando vêm falar comigo em privado e começam com esse discurso de “mas eu como” etc., digo logo “podes mentir a ti mesma/o, mas a mim não me enganas, esse discurso também o tive”. Não desistam de vocês, lutem, vão cair mas levantem-se. Ninguém disse que ia ser fácil mas disse que ia valer a pena.



Pela transformação que passaste na tua vida, explica-nos qual é a diferença entre ser uma pessoa saudável e uma magra não saudável?
Uma pessoa magra não saudável é infeliz, vive chateada, obcecada, irritada. Descarrega em todos que estão à sua volta, descarrega naqueles que mais gostam de si, que estão mais próximos. Esta doença é cansativa, exaustiva e consome-nos a um ponto irreal. É fácil de ver quando uma pessoa tem esta doença, vês na cara a infelicidade e o cansaço.

Qual é ou quem é a tua maior inspiração?
Não tenho propriamente uma inspiração mas tenho pessoas que me dão força para me levantar quando caio, para lutar quando estou prestes a desistir. A Anaísa Gonçalves é a minha “soulmate”. A Duda Passo (maispertoqueontem) é outra, com um passado de compulsão alimentar mas que malha e luta com garras e dentes para ficar melhor. Tenho tantas pessoas que me ajudam e inspiram que é impossível nomear, mas sei que elas sabem o lugar que ocupam na minha vida.


 



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