Entrevista 16Jan

À Conversa com Rebeca Bandeira // Amo Comida Viva


Rebeca nasceu em Lisboa e é mulher, mãe e Psicoterapeuta. É vegetariana há vários anos, mas em 2008 - quando descobriu a Alimentação Viva -, é que surgiu a paixão e o gosto por um estilo de vida saudável. O Clube Fitness esteve à conversa com Rebeca do blog Amo Comida Viva.
 
Em 2009 criou o blog Amo Comida Viva. O objetivo é partilhar receitas, artigos, informações dos workshops, partilha de sites, filmes, livros e de entrar em contacto com outras pessoas que tenham interesse no assunto.
 

À Conversa com Amo Comida Viva

 
Comecemos pelo princípio… Quem é a Rebeca Bandeira? Conta-nos um pouco a tua história.
A Rebeca nasceu em Lisboa, é mãe, companheira, amiga, filha, profissional mas essencialmente, uma curiosa pelo ser humano, que cresceu apaixonada por conhecer outros povos e viajar pelo mundo e que hoje em dia se dedica a apoiar e acompanhar pessoas nos seus desafios de vida, para que encontrem um estado de maior felicidade e bem-estar interior.
 
És Psicoterapeuta e Formadora de Alimentação Viva. O que motivou esta escolha?
Não foi um percurso consciente mas antes uma sucessão de acontecimentos que acabaram por se interligar e fazer muito sentido. A Psicoterapia aconteceu primeiro na minha vida. A Alimentação Viva surgiu depois, curiosamente através de uma conversa com um colega na cantina da Universidade em Londres onde estava a tirar o curso de Psicoterapia. Este ao ver o meu almoço vegetariano simples, composto por massa, brócolos e cenoura, colocou-me uma questão: “Onde está a vida na tua comida?”. Acabámos a conversar sobre a força vital dos alimentos, o seu valor nutricional e da importância em consumi-los no seu estado natural. Esta conversa despertou a minha atenção, e a partir daí comecei a pesquisar e a experimentar receitas, acabando por ir aos Estados Unidos fazer uma formação.
A psicoterapia e a alimentação viva interligam-se muito bem, pois ambas aspiram ao bem-estar interior e criam um impacto positivo na vida das pessoas.


 
Quando começou o gosto e a paixão por estilos de vida mais saudáveis?
Apesar de me ter tornado vegetariana em 2000, apenas em 2008, quando descobri a Alimentação Viva, a paixão e o gosto por um estilo de vida saudável tornou-se mais evidente. Até lá fazia uma alimentação sem grande preocupação no que comia para além de não ingerir carne e peixe. Foi apenas quando senti os grandes benéficos da introdução da Alimentação Viva na minha vida que me comecei a interessar mais sobre como viver um estilo de vida mais saudável, que passou a englobar não sou a alimentação mas uma serie de ações e escolhas como por exemplo a pratica de yoga e meditação.
 
O que motivou a criação do blogue Amo Comida Viva?
O Amo Comida Viva foi criado em Maio de 2009, um ano depois de me iniciar na Alimentação Viva. Começou por ser uma forma de partilhar receitas vivas e de entrar em contato com outras pessoas que também tinham interesse no assunto. Ao longo dos anos evoluiu onde além de receitas, inclui também artigos, loja, informação dos workshops, partilha de sites, filmes, livros, etc.
 
És vegetariana. O que te levou a optar por esta dieta?
Tornar-me vegetariana foi para mim uma evolução natural do meu processo pessoal. Nunca fui muito apreciadora de carne e percebia que meu estômago nunca a digeria bem. Primeiramente foi essa a razão que me levou a deixar de comer carne em 2000. Gradualmente fui deixando de comer também peixe e ovos, ao mesmo tempo que devorava livros sobre vários tipos de alimentação vegetariana (macrobiótica, vegan, ayuvedica, etc.) e experimentava receitas. O impacto que essa mudança ia tendo no meu corpo (sentia-me com muito mais energia, melhorei a digestão e o inchaço, dormia melhor) foi-me incentivando a continuar. Mais tarde com a Alimentação Viva, a questão ética e ambiental ganhou força pois senti que ganhei um maior interesse e consciência em relação ao impacto das minhas escolhas nos animais, na natureza e no planeta.


 
O que dizes às pessoas que acham que uma alimentação vegetariana é chata, sem sabor e dispendiosa?
De uma forma geral respondo: que experimentem! O que mais incentivo nos meus workshops é que as pessoas provem e vejam por si, pois é partir da sua experiência que vão mudar ou não de opinião. O segredo é, que eu sei que quem prova gosta e mais rapidamente vai querer voltar a comer. As nossas papilas gustativas têm memória. Somos pessoas de hábitos pelo que é preciso dar tempo e deixar que o sabor entre e seduza.
Mas se tiver que responder de forma mais detalhada diria:
  • Nada chata - a alimentação viva é uma alimentação extremamente criativa que permite imensas combinações de alimentos pois o mundo vegetal é tão diverso e abundante que é possível num mês fazer todos os dias uma receita diferente. Por exemplo, é possível fazer pizzas, hambúrgueres, lasanha - todos os pratos que existem na alimentação dita normal, têm também uma versão na alimentação viva.
  • Com muito sabor - a alimentação viva utiliza todo o tipo de condimentos semelhantes a uma alimentação cozinhada. Por isso dizer que os pratos não tem sabor não sei o que isso significa. Interessante acrescentar que, desde que faço alimentação viva tive uma redescoberta do sabor dos alimentos pois nunca me tinha apercebido que de uma forma geral os pratos cozinhados têm um sabor final uniforme e que num prato crudívoro existem imensos sabores diferentes e que é possível saborear cada alimento e degustá-lo verdadeiramente.
  • Económica - sendo que a maioria dos alimentos na alimentação viva são de origem vegetal e sem qualquer tipo de processamento é uma alimentação bastante económica mesmo que se opte por consumir tudo de origem biológica. Existem alguns alimentos que a podem encarecer como superalimentos (clorela, spirulina, açai, etc) mas que não são consumidos sempre. Uma das formas que sugiro para economizar mais, é comprar os grãos, as sementes e os frutos secos em granel que ficam muito mais em conta.
Em 2010, numa ida a Boston, foste desafiada a experimentar a chamada “alimentação viva” e adoraste.
Em 2010 quando fui a Boston já fui com a intenção de fazer o curso de formadora de Alimentação Viva com a Alissa Cohen, uma especialista americana em Alimentação Viva. No curso ela desafiou os alunos a fazerem 4 semanas de 100% alimentação viva. Ela dizia que para sermos bons formadores ajudava ter uma experiência total daquilo que estávamos a ensinar. Fez-me muito sentido. Até aquele momento nunca tinha experimentado consumir apenas alimentos crus, por isso, quando regressei a Portugal iniciei as 4 semanas a 100% de alimentação viva. Correu muito bem. Gostei tanto da forma como me senti que decidi continuar e acabei por fazer 4 meses.



Podes explicar no que consiste esta alimentação?
A Alimentação Viva é uma forma de alimentação baseada em alimentos de origem vegetal no seu estado natural tais como: frutos frescos e secos, vegetais, sementes, grãos germinados, algas e fermentados. Estes são alimentos ricos em enzimas e com todos os nutrientes necessários para uma vida saudável. Existe uma minoria dos crudívoros que consume carne, peixe, ovos e seus derivados também em estado cru.
Não é de todo uma alimentação onde se come apenas cenoura, alface ou curgete crua. Os alimentos no seu estado natural são privilegiados mas utiliza-se um conjunto variado de utensílios e técnicas que fazem com que a alimentação seja estimulante, saborosa e as receitas muito variadas. Esses utensílios vão desde o liquidificador, ao robot de cozinha, à centrifugadora, ao desidratador e até mesmo o fogão tendo em atenção que a temperatura não suba acima dos 42ºC, temperatura esta que provoca uma degradação grande dos nutrientes e enzimas dos alimentos.
 
A alimentação crua é saborosa? É fácil de preparar?
É muito saborosa. Eu gosto que as pessoas provem tudo nos meus workshops e vejam por si. O feedback que recebo é a surpresa de ver ingredientes que parecem tão simples terem um sabor tão bom quando combinados entre si, como por exemplo um espaguete de curgete com um molho de tomate fresco ou uma mousse de chocolate feita de abacate (duas das receitas que faço nos workshops de Introdução à Alimentação Viva).
De uma forma geral é muito fácil de preparar basta ter os ingredientes disponíveis em casa. Existem algumas receitas mais elaboradas que requerem mais tempo como por exemplo pizza, que pedem o uso do desidratador, mas a maioria das receitas vivas requerem apenas um liquidificador ou robot de cozinha. 



As refeições podem ser aquecidas?
Sim, na alimentação viva as refeições podem ser amornadas tendo em conta que a temperatura não passa dos 42ºC. Por exemplo fazer uma sopa viva no liquidificador e deixá-lo a trabalhar por mais uns minutos - o que faz que a sopa fique quentinha, ou no desidratador (que eu gosto de apelidar de “o forninho dos crudivoros”) que é um aparelho com uma ventoinha de ar quente e que vai retirando a água dos alimentos, também faz com que os pratos sejam aquecidos.
 
Que benefícios para a saúde e outras melhorias notaste depois de começar este tipo de dieta?
Depois de uma fase inicial onde por alguns dias senti sintomas inversos como dores de cabeça, obstipação, dores no corpo, algum cansaço e irritabilidade, progressivamente comecei a sentir um aumento de energia e vitalidade, a ter um sono mais reparador à noite e a precisar de dormir menos horas, sem sintomas de sinusite, dores no corpo e com maior flexibilidade.
O impacto sentido foi não só a nível físico mas a outros níveis. Ao nível mental senti um clarear dos meus pensamento e com maior capacidade de pensar; a nível emocional uma maior tranquilidade e ao nível espiritual senti uma maior ligação a tudo o que me rodeia (pessoas, natureza, planeta).

 
É aconselhável fazer uma alimentação 100% crua?
Comer 100% cru, não é certamente para todos, mas não há dúvida de que funciona para algumas pessoas, pelo menos por algum tempo.
Uma alimentação 100% crua pode ser usada para um processo de cura, num momento de desintoxicação ou por exemplo, para perder peso. Contudo não é necessário fazer uma alimentação viva a 100% para se sentir os seus benefícios. Existem autores que defendem que a partir de 50% de alimentos crus já se conseguem sentir grandes benefícios.
Na minha experiência a quantidade de alimentos crus na alimentação diária deve ser ajustada de acordo com vários factores que vão desde, a fase da vida, as estações do ano, ter ou não uma vida ativa regular, etc. Aconselho principalmente a ouvir o corpo e a sentir qual a quantidade que melhor se adequa ao momento presente. É importante ser flexível e acima de tudo, ter prazer e desfrutar daquilo que se come.
 
Quais as consequências que uma alimentação 100% crua pode ter na saúde?

Há medida que progressivamente se vai aumentando a ingestão de alimentos crus na dieta é possível sentir uma melhoria substancial nos níveis de energia, na digestão, desinchaço e alguma perca de peso. Outros efeitos são uma aparência mais jovem (pele mais hidratada - os alimentos crus têm uma grande quantidade de água), um sono mais reparador e a necessidade de dormir menos.
Estudos apresentados no The Journal of Nutrition por exemplo, mostram que o aumento de alimentos crus na dieta faz baixar os níveis de colesterol e triglicéridos que são os indicadores de doenças cardiovaculares, obesidade e pressão arterial alta. 


 
Onde conseguimos encontrar proteína na alimentação viva?
Na Alimentação Viva a proteína é encontrada nas frutas, legumes, frutos secos e germinados. Os vegetais de folha verde (a couve por exemplo), as amêndoas e nozes são fontes muito ricas de proteína do reino vegetal. Além disso, hoje em dia existem disponíveis os superalimentos como as proteínas vegetais por exemplo de cânhamo e as algas spirulina que oferecem um bom acrescento de proteína.
 
No teu site afirmas que tens uma “alimentação intuitiva e consciente”. Consideras que existem vantagens nutricionais da alimentação viva em relação às outras dietas? 
Actualmente chamo àquilo que pratico uma alimentação intuitiva e consciente porque apesar de considerar que a alimentação viva é a base do meu estilo de vida, ao longo destes anos ela sofreu alguns ajustes e modificações provocadas pela minha experiência e momento de vida. Ser intuitiva tem a ver com o facto de poder ser flexível e de estar em ligação com o meu corpo ao ponto de sentir quais os alimentos que em determinado momento preciso de ingerir ou não. E ser consciente fala de alimentar-me para viver e não viver para comer. Isto significa que como com a intenção de me nutrir e de dar o melhor alimento possível ao meu corpo.
 
Que conselhos podes dar às pessoas que querem ter uma alimentação mais viva e um estilo de vida saudável?
Partilho aqui alguns dicas simples que resultaram do meu percurso e que tiveram um impacto muito positivo: Introduzir batidos verdes (green smoothies) pela manhã; pesquisar na net por receita de comida viva e experimentar fazer uma; ver documentarios sobre o tema da alimentação e estilo de vida saudável, por exemplo “Food Matters”, ir aos mercados biológicos de produtores (existem vários a acontecer pelo país ao fim de semana), “Alimentar-se” de banhos de sol (qualquer que seja a estação!), usar os legumes que já tiver em casa e experimentar prepara-los sem os cozinhar, movimentar-se todos os dias (pode ser uma coisa tão simples quanto dançar uma musica que gosta ou a dar um passeio na natureza), fazer um workshop de Comida Viva, não ser dogmático em querer alcançar 100% de alimentação crua; relaxar e ter prazer naquilo que come, planear um menu para a semana com algumas refeições cruas, olhar os rótulos da comida que se compra, comer algo verde todos os dias, substituir o leite de vaca por leite vegetal feito em casa (leite de amêndoas por exemplo), começar uma horta (mesmo que seja na varanda!).



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