Entrevista 10Jul

À Conversa com Cláudia Belo // Claudia Fit Tricks


Cláudia tem 23 anos e está a tirar o curso de Medicina. Adora treinos de musculação e segue uma alimentação baseada na dieta paleolítica. No entanto, a sua relação com o corpo e a imagem nem sempre foi pacífica. O Clube Fitness esteve à conversa com Cláudia Abranches Belo, autora do blog Claudia Fit Tricks
 

À Conversa com Claudia Fit Tricks

Olá Cláudia! Podes falar-nos um pouco de como foi a tua infância e adolescência e qual era a tua relação com a comida. Sabemos que eras uma criança “rexonxudinha”.
Enquanto criança era muito gulosa (e ainda sou) e como passei por uma situação familiar complicada, com a doença do meu pai, quando tinha 5 anos, comecei a usar a comida como um refúgio. Toda a família tentava “mimar-me” com doces para minimizar o sofrimento e animar-me, não os posso condenar por isso mas em parte contribuiu para ser uma criança que já estava no limite da obesidade. Para além disso tinha uma forte tendência genética para a obesidade com uma carga de doenças cardíacas, diabetes, colesterol, entre outras do lado da minha família paterna, o que agravava a situação.

Aos 10 anos, começaste a fazer “dietas malucas” e tornaste-te verdadeiramente obsessiva com a comida. Explica-nos como foi essa fase da tua vida.
Até aos 8 anos era “gordinha” e tinha complexos por isso. Queria vestir roupas e sentia-me mal porque achava que não me assentavam bem e como todas as meninas começava a querer ter um corpo bonito. Tremia sempre que ia às consultas da pediatra porque ela para me “persuadir” a deixar de comer doces e emagrecer, dizia “que qualquer dia rebolava” e que “parecia um monstro assim” (sei que parece difícil de acreditar vindo de uma pediatra, que lida com crianças). A minha mãe também insistia muitas vezes no facto de não ser bonita gordinha e sempre que se chateava comigo acabava por referir isso. Foi aí que comecei a querer emagrecer. Primeiro cortei nos doces, fritos e sumos. Até aí tudo ia bem. Mas olhava para o espelho e apesar de já estar no peso normal para a minha estatura achava-me sempre “gorda” e com uma barriga gigante. Comecei a restringir os alimentos. Só queria comer sopas e fruta, fazia 1h30 a 2h de exercício físico por dia em casa (abdominais, flexões, agachamentos, corrida) e aumentava cada vez mais o número de exercícios e de tempo de treino. Não me queria sentar “para não ser sedentária” e tentava estar sempre em movimento para gastar mais calorias.



Sabemos que acabaste por desenvolver um distúrbio alimentar, a anorexia. Quando te apercebeste que não estavas bem e que não eras saudável? Que consequências a doença trouxe para a tua saúde?
Nessa altura os meus pais aperceberam-se que eu não estava bem estava muito magra e notavam que eu comia pouco e deixava sempre a comida que eles me punham no prato, dizia sempre que estava sem fome. Andei no psicólogo um ano mas nada melhorava, estava cada vez mais magra. Numa consulta na pediatra, esta disse que se continuasse assim teria de ser internada, que a doença estava a comprometer o meu desenvolvimento e tinha parado de crescer. Foi aí que para mim serviu como terapia de choque. Por mim mesma cheguei a casa, nesse dia havia um jantar de família, fiz um enorme esforço mas comi normalmente tudo o que tinha no prato e ainda uma fatia de bolo. Desde aí aos poucos voltei a comer de tudo e passei a ser uma criança saudável.

Que conselhos deixas às pessoas que possam sofrer atualmente de um distúrbio alimentar?
A mensagem que deixo é aquela que aprendi com a minha experiência. Temos de ser nós mesmos a querer sair desse poço que é a anorexia. Tem de partir de nós a vontade de emergir e temos de deixar que os outros nos deem a mão. Ninguém tem de passar por isso sozinho. Tudo depende de nós, somos nós que controlamos o nosso corpo e por isso temos de assumir o controlo e ignorar aquelas “vozes” que nos dizem que estamos gordas ou que não devemos comer. Temos de respirar fundo e pensar racionalmente. Ter a noção de que é a doença a falar e nada daquilo é real. Ter a noção que há mundo e há luz para lá da doença e quando tudo passar seremos novamente felizes!

Qual é hoje a tua relação com a comida? Que cuidados tens?
Sempre adorei comer e sempre adorei cozinhar. Acredito que atualmente atingi um equilíbrio. Adoro comer saudável, além de saber que me faz bem à saúde e que é bom a nível estético, eu gosto realmente da comida que como e procuro sempre cozinhar os meus pratos favoritos em versão saudável porque saudável não significa monótono ou sem sabor.



Segundo as tuas páginas, segues uma alimentação baseada na dieta paleolítica. O que te levou a adotar a paleo como estilo de vida? E que diferenças notas?
Quando descobri uma doença inflamatória intestinal, decidi tornar-me mais saudável porque os médicos falaram em começar a tomar corticosteroides que entre os seus inúmeros efeitos adversos, contribui para aumentar o peso. Inscrevi-me no ginásio e aí conheci os meus instrutores e amigos que seguiam este tipo de alimentação e me começaram a dar dicas e fomentaram em mim a curiosidade que me levou a investigar os enormes benefícios que a alimentação paleolítica tem nas doenças auto-imunes. Comecei então a ser seguida pelo Dr. André Matias, nutricionista que defende este tipo de alimentação e isso mudou a minha vida por completo tendo contribuído em larga escala para a melhoria da minha saúde como também a alcançar alguns resultados a nível estético nessa altura. Desde que sigo esta alimentação a doença tem tido quase nenhuma expressão na pele e tenho muito menos crises gastrointestinais.

De forma resumida, e para quem não conhece, em que consiste a dieta paleo?
A dieta paleo baseia-se no facto de o nosso sistema gastrointestinal quase nada ter mudado em relação ao dos nossos ancestrais e por esse motivo não estarmos preparados para consumir muitos dos alimentos processados que a indústria alimentar introduziu desde a revolução agrícola e industrial. Defende o consumo de alimentos o mais naturais e menos processados possíveis, sem aditivos, sem açúcares refinados, sem leite e seus derivados e sem cereais ou glúten. A proteína assim como as gorduras não hidrogenadas (frutos secos, gordura animal e vegetal…) assumem um papel preponderante e muito importante nesta dieta, defendendo também o consumo mais moderado de hidratos de carbono relativamente à tradicional dieta mediterrânica uma vez que o consumo excessivo de hidratos não está adequado à população atual que não é nómada e não precisa de energia para caçar ou escapar de perigos. Deste modo, existem vários estudos e case-report acerca da forma como este estilo de vida tem contribuído para a melhoria das manifestações de doenças auto-imunes e doenças inflamatórias intestinais (uma vez que a alimentação influencia muito o nosso sistema imunitário e muitos dos alimentos que consumimos são alergénios ou nocivos para o trato gastrointestinal), síndrome do cólon irritável, diabetes, doenças cardiovasculares…

Tens algum recurso (livros, filmes, sites) sobre receitas paleo onde te inspiras? Podes partilhar connosco?
Existem alguns livros muito bons que falam da dieta paleo, entre eles: “Cérebro de farinha” de David Perlmutter, e “A dieta do Paleolítico” de Loren Cordain. A nível de receitas já se encontram imensas receitas paleo de doces e salgados super saudáveis e deliciosos tanto no instagram como em vários blogues. Aconselho por exemplo o blogue da Ana Matias, @mypaleolife, onde encontram várias receitas muito boas. Eu gosto muito de ver coisas aqui e ali e inventar na cozinha, sempre adorei cozinhar e adaptar receitas à versão saudável e paleo é um desafio que adoro!


 
A par da alimentação, também és apaixonada pelo desporto. Quantas vezes fazes exercício físico e quais são as tuas atividades favoritas?
Sempre que consigo, treino 5x por semana. Não porque ache que me vai prejudicar a nível da saúde ou estético se treinar apenas 3x ou 4x mas porque é algo que adoro e me completa. Adoro musculação, digo sempre que fui feita para “puxar ferro”. Treino perna 3x por semana e nos outros dois dias gosto de fazer treinos mais funcionais, hiit, abdominais ou membros superiores. Gosto muito de algumas aulas de grupo como o bodypump embora muitas vezes não consiga frequentar por incompatibilidade de horário.

Se tivesses que escolher apenas 3 exercícios, quais seriam e porquê?
Agachamento, peso morto e push ups. São exercícios completos que recrutam imensos grupos musculares em simultâneo e também dos mais eficazes a nível da musculação.

Além da página de Instagram, criaste o blog Claudia fit tricks. O que podemos encontrar no teu blogue?
Há já algum tempo que queria criar um blog para poder partilhar com toda esta família fit que criámos no insta, mais receitas e abordar alguns temas como alimentação e treino. Embora não tenha tanto tempo para publicar como gostaria tenho tido feedback positivo e estou contente por isso. Irei dinamizar um pouco mais o blog, já tenho várias ideias para novos posts para além das receitas que vou partilhando.



O que recomendarias a uma mulher que deseja mudar os seus hábitos e manter uma vida mais equilibrada?
Aconselho acima de tudo que confie em si própria. Temos de nos valorizar e amar como somos, independentemente de não termos alcançado a forma física que gostaríamos, de termos uma preguinha na barriga ou celulite na coxa, temos de nos amar e sentir bem na nossa pele. Depois então podemos fazer algo por nós para nos sentirmos melhor. A força de vontade e determinação partem de nós, os outros podem ser um incentivo mas não podemos basear-nos na dieta desta ou no treino daquela pessoa e não podemos ter ideais de beleza irreais. Atualmente no instagram e nas redes sociais em geral vê-se muita mulher com “curvas perfeitas”, e podemos cair na tentação de sentir frustração e isso leva a um de dois caminhos: desistência porque nunca conseguiremos lá chegar (a menos que saibam usar Photoshop ou usem esteroides anabolizantes) ou distúrbios alimentares e obsessão. ESQUEÇAM as outras pessoas, nós somos o nosso ideal de beleza e sempre que tentarmos melhorar tem de ser em relação a nós mesmas e inspirar-nos em nós mesmas e tudo o que já alcançámos!



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